Em 2004, "O Despertar da Mente" (no original, "Eternal Sunshine of the Spotless Mind") tornou-se num surpreendente fenómeno de popularidade, entre crítica e público. Nele, assinalava-se o encontro entre duas das mentes mais indomáveis do panorama contemporâneo, o realizador Michel Gondry, arquiteto de um cinema de bricolage, excêntrico por natureza, reinterpretando o quotidiano à luz do onirismo, e Charlie Kaufman, dono de uma escrita inconfundível, capaz de mergulhar nas profundezas da psique humana com uma contundência lancinante, que não abdica de uma componente lúdica muito pessoal. Nem Gondry, nem Kaufman conseguiram replicar esse sucesso. O primeiro, saltitou entre os EUA e França, sem nunca abdicar da "estranheza" que o caracterizava, tornando-o num autor de culto, mas, dificultando-lhe a vida nas bilheteiras, enquanto o segundo se virou para a realização (e, recentemente, para a literatura), com resultados tremendamente fascinantes, ainda que pouco